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Análise & Opinião

Zuckerberg não abandonou o metaverso. Apenas mudou o caminho

Cortes na Reality Labs indicam ajuste estratégico, não desistência. A Meta redireciona o foco para formatos mais aceitáveis ao consumidor, mantendo o metaverso como objetivo de longo prazo.

Editorial

|14:00

Fonte: Bloomberg; Reuters; Financial Times

Zuckerberg não abandonou o metaverso. Apenas mudou o caminho

Crédito: Google

Sempre que surgem notícias sobre dificuldades no projeto de metaverso da Meta, uma reação previsível se espalha: a sensação de que Mark Zuckerberg finalmente “caiu na real”. Os recentes relatos sobre cortes de até 30% na divisão Reality Labs reacenderam essa narrativa, acompanhados por comemorações no mercado e análises que tratam a decisão como um abandono silencioso da visão original.

Essa leitura, porém, é simplista.

Os cortes fazem parte de um esforço mais amplo de racionalização de custos dentro da Meta e podem gerar uma economia estimada entre US$ 5 bilhões e US$ 6 bilhões. Para investidores, isso soa como alívio. Para observadores mais atentos, no entanto, trata-se menos de uma mudança de destino e mais de um ajuste de rota — e não é a primeira vez que Zuckerberg faz isso.

Desde 2021, a aposta no metaverso custou dezenas de bilhões de dólares à empresa, com resultados modestos no curto prazo. As vendas de headsets de realidade virtual ficaram aquém do esperado, e plataformas como o Horizon Worlds jamais atingiram massa crítica. Ainda assim, interpretar esses números como sinal de desistência ignora um padrão conhecido do fundador da Meta: persistência em projetos de longo prazo, mesmo diante de críticas intensas.

Dois fatores recentes ajudam a explicar o reposicionamento estratégico. O primeiro foi a entrada da Apple no mercado de realidade mista. Embora tecnicamente competente, o produto não trouxe a ruptura esperada nem um caso de uso transformador. O que chamou atenção, contudo, foi a sofisticação da interface e do design — ponto em que a Meta rapidamente reagiu, inclusive incorporando talentos vindos desse ecossistema.

O segundo fator foi o desempenho inesperadamente positivo dos óculos inteligentes desenvolvidos em parceria com a Ray-Ban. Ao contrário dos headsets volumosos, esses dispositivos encontraram maior aceitação entre consumidores e sinalizaram um caminho mais pragmático: começar pelo formato mais simples, socialmente aceitável e funcional, e evoluir gradualmente.

Esse movimento inverte o plano original da Meta, que previa partir de dispositivos completos e, com o tempo, miniaturizá-los. Agora, a lógica é oposta. Começar pequeno, mesmo com menos recursos, e avançar conforme o mercado responde. Isso muda a trajetória, mas não o objetivo final.

A criação de um novo estúdio de design interno e aquisições recentes na área de dispositivos vestíveis reforçam essa estratégia. A inteligência artificial passa a ocupar papel central, funcionando como elo entre os óculos inteligentes de hoje e a promessa mais ambiciosa de realidade mista no futuro.

Nesse contexto, a IA oferece algo valioso: uma justificativa concreta de curto prazo para investimentos que, no fundo, continuam alinhados à visão de longo prazo do metaverso. Óculos inteligentes são, ao mesmo tempo, uma plataforma viável para aplicações de IA e um passo intermediário rumo ao ambiente virtual imersivo que Zuckerberg nunca deixou de defender.

Esperar que ele abandone essa visão é ignorar sua trajetória. Assim como outros líderes tecnológicos conhecidos por insistirem em ideias impopulares, Zuckerberg tende a suportar críticas, perdas financeiras e desconforto público em nome de um projeto que considera inevitável.

Se essa aposta se provar correta, a narrativa mudará novamente. Muitos dos atuais críticos dirão que sempre acreditaram. Até lá, o que se vê não é desistência, mas adaptação estratégica — algo comum em projetos que miram décadas, não trimestres.


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